sábado, 16 de dezembro de 2017

A alma do falar

 

Olhando bem funda na alma
Vasculhando o vazio e suas falas
Nasci assim entre o sonho e a necessidade
Falo baixo porque minha voz é muito

Voz rouca temperada na loucura
Esconde meus braços de pegar o mundo
E não saber usa-lo
Sou um tronco na cidade bolha

Apenas uma metáfora da fala e do não saber
Ignoro um sorriso ontem porque hoje não sei de nada
Meus pés caminham por estradas que não conheço
E toda tentativa de ser assim é uma desnecessidade de alma

Porque ser é desprovido do querer ser

As musas se foram e me deixaram com a solidão e a fala
Descobri que os pássaros acordam com a luz branca
E os espectros encarnado do sol nascendo
É o despertar do dia no fogo de Hórus

Mas isso também não importa
Quando a fala cai no ouvido da gente
Ela tem a força da natureza
Tal como Marco Polo não falava trivialidades

Conversar com os pássaros é um privilégio da loucura
Assustadoramente encantador
Terrivelmente belo
Beleza apreciada por poucos e almejado no dia a dia

Estou escolhendo meu caminhar
Porque meu Norte é todos os pontos cardeais
E a liberdade dos pássaros me ensina a voar
Ensina a acordar para luz do sol

Eu que entendo as coisas envesadas
Contorço minhas palavras na tentativa
De dar cabo ao sonho e sua loucura amena
De ir vivendo este cotidiano

E predicado alguma de falar deste sujeito ordinário
Porque o cotidiano é filho do Cronos
Neto de gaia com sua beleza simples
Ele é cinza encarnado de todas as cores

É o bêbado que se levanta na esquina
E cruza com a senhora que volta do sacolão
São as folhas no quintal de uma velha
E ela só limpa a passagem

O cotidiano é assim
Extraordinariamente belo para quem tem olhos
Encantador para quem tem ouvidos
Sublime para quem vive o agora

Para quem vive no amanhã ou no ontem
Ele é cinza ... uma passagem para não vida
Desperdício terrível de se estar querendo viver
e não vive
Mas falar dele é perde-lo
Tal como areia não mão
Quanto mais se quer falar
Menos se sabe

A fala nasceu para endireita-lo
E ele é o que é
Por isso na alma da fala

Há o desejo dos que ouvem de verdade