quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Trepando com a linguagem



Quando você tira suas reticencias
Meu coração acelera
Meus olhos fixos me denunciam

Lentamente você se despe dos paroxítonos
Um arrepio corre na espinha
Olhos semicerrados a procuram

E você má linguagem que é
Déspota deste coração de poeta
Me atiça com estas mesóclises bem encaixadas

Tiro todos os acentos a dentada
E chupo essa metáfora
Como se fosse uma mera função de linguagem

Agora passa da poesia à prosa
Vejo você escorrer por infindáveis discrições
O realismo fantástico se torna ordinário

Seus discursos ganham tons sintéticos
Que analise alguma a de definir

Você se abre em paráfrases
Eu agarro suas preposições como um animal selvagem

Você ofegando em verbos
Solta um gemido filosófico
E derruba três gramáticos da estante

Berra uma quadra
Ahnnnnnnn
Neologismo

Levanto a cabeça de poeta
E nos lábios decassílabos

Me olhas com a fúria de uma exclamação
Te ataco com todos os meus versos e rimas
E nos amamos ...

Depois
Desta perversão poética

Dou por mim
E você já vestiu todos os hifens
Calça dois parágrafos bem alinhados

Faz um abstract curto e preciso
“just business man!”

Lhe pago três virgulas e um acento
E fico a fumar meu cigarro eletrônico