quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

O amor fala





Estou amando
Claro como um raio de sol
Uma deusa que colhe versos
E acredita em deuses

Uma planta paciente e forte
Nasceu neste jardim de pedra
Suas folhas verdes caem da cama
Brincos somem na madrugada

O amor fala a linguagem dos bichos
Sua voz não carrega palavras
Sentido ... não há
Apenas movimentos acústicos que ressoam cá dentro

O amor não manda recados
Ele fala direto com o corpo
Como meio, meta e origem
Força bruta e frágil do estar vivo

O amor é tão singular
Que salta das beiradas do universal
E me torno barroco pra entender
Não entendo e salto no tempo

Vivo
Vivo
Rio
Rio
Frio
Frio
Cio
Io
O
Ohhhh

Amor
Minhas asas de borboletas não me deixam
Meus olhos de poeta me denunciam
Estou amando

O amor fala
E poucos estão capazes de escutar

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Trepando com a linguagem



Quando você tira suas reticencias
Meu coração acelera
Meus olhos fixos me denunciam

Lentamente você se despe dos paroxítonos
Um arrepio corre na espinha
Olhos semicerrados a procuram

E você má linguagem que é
Déspota deste coração de poeta
Me atiça com estas mesóclises bem encaixadas

Tiro todos os acentos a dentada
E chupo essa metáfora
Como se fosse uma mera função de linguagem

Agora passa da poesia à prosa
Vejo você escorrer por infindáveis discrições
O realismo fantástico se torna ordinário

Seus discursos ganham tons sintéticos
Que analise alguma a de definir

Você se abre em paráfrases
Eu agarro suas preposições como um animal selvagem

Você ofegando em verbos
Solta um gemido filosófico
E derruba três gramáticos da estante

Berra uma quadra
Ahnnnnnnn
Neologismo

Levanto a cabeça de poeta
E nos lábios decassílabos

Me olhas com a fúria de uma exclamação
Te ataco com todos os meus versos e rimas
E nos amamos ...

Depois
Desta perversão poética

Dou por mim
E você já vestiu todos os hifens
Calça dois parágrafos bem alinhados

Faz um abstract curto e preciso
“just business man!”

Lhe pago três virgulas e um acento
E fico a fumar meu cigarro eletrônico