quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Fui poeta ontem


Ontem eu fui poeta
Escrevi aqueles versos eu sei
Hoje não sei não
Sempre me pareci poeta ontem

Hoje tenho qualquer coisa
De ordinário cotidiano
Pleonasmo desgastado
Ou talvez arestas desnecessárias

Talvez sim
Talvez não

Esta mudança de perspectiva
Me enjoa
Me encanta
Mas fui poeta mesmo ontem

Hoje não sei não
Ficar repetindo palavras
Trazer a cadencia para o fim
Na eterna costura dos versos

Não vai salvar seu poema não
Nem fazer você virar poeta hoje
Poeta mesmo foi ontem
Ontem ou ano passado não sei

Não interessa
Poeta que é poeta
Não é poeta hoje
Fui ontem não foi?

Ah! Então já sei
Poeta bom é poeta morto
Poesia de ontem que não se repete
Hoje ... não sei não

Tudo me parece um engodo
Uma formula torta
Para enquadrar o que não pode ser enquadrado
Então com esta chave

Que recebi de meu bolso
Porque quis é claro
Libero todos os poetas
Para serem poetas hoje

Liberto o ser poeta
Para todos os tempos verbais
Inclusive o gerúndio e o infinitivo
Coitados dos irmãos pobres

Poetar e poetando
Poetador e poetado
Libertem-se agora
E para sempre

Ah! Mas quando este versos
Forem de ontem
Serão versos de ontem
E nada mais