quinta-feira, 28 de maio de 2015

Aparência



Que história é essa?
O tempo passa
E você não quer passar por ele?
É uma foto que envelhece só por fora

Na contagem dos absurdos do cotidiano
Este aparece em auto relevo na estrada
Meus contemporâneos não querem envelhecer
A velhice é quase uma doença a ser evitada

E como se já não bastasse o absurdo de suas querências
O paradoxo do discurso e dos atos é notória
As pessoas não querem que o tempo passe
Mas adoram fazer coisas para passar o tempo

Ah!
Não sabem retirar do silêncio
A espessa gota amarga do ócio

A doce tarde contemplativa
Se perde nas telas dos celulares

E quando se dão conta da beleza da tarde
Aceleram-se na rapidez da foto
Para viver uma não vida em lugar nenhum
Talvez para passar o tempo e não encarar a morte

Que seja

Que me perdoe todos os defensores da aparência
Todos os vendedores inescrupulosos
Todos as acionistas e negociantes da bolsa
Todos os acadêmicos pedantes
Todos aqueles que acreditam no espelho

Me perdoe
Eu não sei o que falo
Mas quando não se ama a realidade

Não se vive de fato

domingo, 3 de maio de 2015

O enterro de Pã



Esta morto
A linguagem do silêncio foi imposta
Como as arvores balançam no fim da tarde
Acabou tudo

O não ser é necessário
Para se manter a ordem das coisas
Desnecessárias

E não percebemos que não adianta lutar
A transitoriedade é a regra geral
O silêncio profundo há de vencer sempre
Como as arvores balançam nesta tarde

Esta morto
Mas ainda não enterrado
Ainda cabe aos vivos sentir sua ultima agonia
Seu ultimo silêncio na beira do esquecimento

O ultimo recado dos mortos
É este silêncio impenetrável
Este excesso de lembranças passageiras
E a ignorância de não se ser jamais esquecido

Mentira socialmente aceita
Verdade refutada na vida
Na fonte de nossos desejos de eternidade

Pã está morto
Mas ainda não foi enterrado
Ainda não sabemos esquecê-lo
Para enfim vivermos o agora

Como as arvores balançam neste fim de tarde