quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Quando se deve falar



Aquele que fala
Só pode ouvir no silencio
Seus gritos foram abafados na multidão
E os versos estão cada dia mais distante

Aquele que fala
Fala pela boca do tempo
Esta ordem de se usar as palavras
E ser por ela usado

Quando acordar amanhã
E ontem for esta necessidade
De acontecer como devia
Um passado imemoriável

Ele jura que viveu
Como quem vive assim
Despretensiosamente
Simples como uma borboleta

O que resta é este estar vivo
As expectativas e os sonhos
São só palavras no dia a dia
Seus sentidos são tortos

As palavras são tortas
Quando o mundo fala
Calemos e observemos o silencio
Que desprende deste coro desafinado

Um gato falou ... que se foda
Bom dia no meio do dia
Acordaram para dar os seus bons dias
Antes mesmo do café

Ninguém põe reparo no seu bom dia
A maquina urge urra e sussurra
Tudo ao mesmo tempo agora
Como se amanhã não fossemos

Um vídeo engraçado está carregando
E parou assim no meio
Nem foi tão engraçado assim
Mais um piscou na tela ... mais um numero que temos

Não ... não temos nada

Ah! mas tem o grupo da família
Grupos do churrasco daquele dia
E não acabou até hoje
Grupos dos amigos

Grupos de poesia que mal abro
Poeta adora copiar um bom dia
Apago tudo antes mesmo de ler a memória está cheia
Estou cheio de tudo e repleto de nada

Estão todos aqui comigo
Mas não vejo ninguém
Só a solidão de uma sala de espera
O voo atrasou

Mas que se foda-se
Não foi isso que gato falou?!
Perdoe o poeta sua licença
De estrupa o português sozinho

Ahn um vídeo do Charles Chaplin
É ele aparafusando a maquina
Enquanto aparafuso minha vida
Ele não sonhava, mas sabia

Uma corrente de deus
Uma piada não lida
Um meme para alegrar a vida
Filosofias instantâneas de como vive-la

Desligo esta tela ... e vou viver
Abro um bom livro
E vou compartilhar a solidão

Comigo mesmo

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A fala por traz dos olhos


Você vai tomar conta de minhas poesias?
Não sei
A paixão tem destas coisas inenarráveis
Espiral louco e necessário

Quando o tema sobrepujará a forma
Mais uma vez?
Não acredito que problema estético da arte
Envesou em meu poema de amor

Fez desta fala diária
Um soar mais leve e ordinário
Como se Pirro
Tivesse perdido a guerra

E perder ou não é tão irrelevante
Como as primeiras pinceladas do quadro
Aquele que fica escondido por traz de cores fortes
Do cotidiano ... irreparáveis

Ah! Mas o reparo que escorre do hiper-real
Neste realismo oculto
É só um filtro qualquer
De um aplicativo moderníssimo

Arte instantânea
Que mistura o velho do novo
Faz Paul Gauguin ser civilizado
E não fugir pra selva

Amor liquido tem destas cores
Que Van Gogh não ousaria pintar
E a Impressão fosse mero acaso nas bordas
Das cores pastéis de fotos inexprimíveis

Chega!!!

Com este eu lírico louco de erudição desmedida
Tu não fotografas o que há de simples no amor também
Rafael se orgulharia destas formas abauladas e etéreas
Linda paixão escorrendo pelos lisos vermelhos de seu cabelo

Falar com os olhos é como estar louco
Perceber os passos antes de caminhar
É saber do agradável para além do outro
Como se deus menino abandonasse Alberto Caeiro

E não fosse ele o defensor de todos os muros
Falar com os olhos é não saber sabendo
É como fazer um poema de amor
E o tema não fosse este

Aquele que fala com os olhos
Fala de dentro debruçado na janela
Não fecha o poema com chave de ouro
Porque representa a infinidade do instante

E como todos os versos acabados ou não tem seu fim
Falar dos olhos é volta ao esbranquiçado do quadro

Um Silencio na contemplação do amante