quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Atos de capital selvagen

Em um mundo onde literalmente tudo pode ser convertido em dinheiro

O sol bate
E fico assim pasmo
De quanta vida ainda há lá fora
Um passarinho que pula no asfalto

Enquanto o oleo da morte
Jorra pelos campos de aguas profundas
Um passarinho preto sisca inocente na calsada
O que fizemos?

Porque somos assim tão egoista?
Quem parará esta maquina edionda
Que destroi a si mesmo
Com requinte de crueldade?

Qual suicida mais nobre
Nos ensinará o caminho da morte ante o inevitavel
O ultimo ato
Antes do espetaculo final

Qual neoritico narcizista
Gritará em alto tom científico?
"Morram seus selvagens!"
E nos matará pateticamente limpo de si mesmo

O pior selvagem
É aquele que se intula civilizado na plateia
Tem ideais repleto de destrição oculta
Papel impresso e bits de satifação

O pior selvagem
Assiste indeferente a morte alheia
Em sua poltrona
Vê a morte nos olhos de Alice

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Herói na minha cidade

Herói na minha cidade
não salva vidas de velhinhas
nem é herói a medida grega

herói no Rio de Janeiro
não é corrupto e faz o seu trabalho
e raramente aparece na TV

sábado, 12 de novembro de 2011

O malandro do café

Um café!
Coruja!
Porque não fazer uma fé
35 no duro
e 44 32!

ei tá faltando 15 centavos
ah! deixa que a banca paga

Assim foi o malandro
a fé no bolso
e sem um centavo a mais

sábado, 5 de novembro de 2011

O louco poeta das ruas

A folha em branco
não há segunda chance
as palavras vão fluindo

e vou com elas a ser um eu
fluido e perdido
um eu que jamais fui e jamais serei
um eu perplexo preso neste instante

neste nada
revestido de todas as verdades
vou meio que no meio
vivendo vidas de um inteiro

eis que o verbo poder
assalta-me a mente
possibilidades que não foram
de um lado oposto e mesmo

a vida que pulsa e empurra meus braços
minhas pernas que vão andando
e vou me perdendo nas quinas dos muros
limpando a limpeza de prédios altos

sou o que teve só qualidades
o que não deu sorte na vida
escrevo para quem?
Se não para praguejar todo este esquema

um esquema a muito já sabido
praticado com os fracos
cheios de força e pulmão
tolerados no limite do silêncio

camuflados de sujeira e pó
cobertores por todos os cantos
vou cantando a vida
e louvando a grandeza deste universo

faço minha reza enfrente ao bar
esquinas da minha solidão
eis que um policial se aproxima
fujo como se não tivesse ali

ainda posso sentir
o gosto da cachaça na boca
paro em outra esquina
e agora vou louvar o sol que já vai

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Na minha terra passa um trem

Batidas ritmadas
musica matinal

toc toc te téc
toc toc te téc

pessoas vão e vem
no embalo do trêm

toc toc te téc
toc toc te téc

um pastor lê a biblia
e nada mais faz sentido

toc toc te téc
toc toc te téc

A tristeza aparente
esconde um sorriso embutido

toc toc te téc
toc toc te téc

trabalhadores levantam antes do sol
e trabalham num só ritmo

toc toc te téc
toc toc te téc

É barulho que regula a vida
no consumo que não é findo

toc toc te téc
toc toc te téc

e a noite o som vai embora
na espera de mais um dia

ficou o som na cabeça
que este passageiro sentia

hoje, ando de ônibus
sonhando que sabe um dia
voltar para a terra minha
do toc toc e agonia