terça-feira, 4 de junho de 2013

A passarela

Mas um dia de trabalho
Uma passarela quase tombando
de tão velha
que ficou esquecida no tempo

Atravesso a grande avenida
corações apressados
vão ao trabalho engarrafados
coitados destes sofredores

A liberdade que vos cerca
é sua mais luxuosa prisão
Superemos
Equalizemos no álcool esta agressão

Afinal hoje é sesta feira
dia da pseudo-liberdade
dia do vamos sonhar curto
Do consuma porque o tempo te consome

A passarela está acabando
eis que as coisas sempre estão acabando
mas o sol está nascendo
lindo sol no alto desta passarela

e começo a descer a passarela
um ar pesado invade meu coração
raios de sol penetram na poeira da manhã
cruzes aparecem sombreando o infinito

na tentativa vã de ser eterno

há um cemitério no fim da passarela
vastidão de lapides cercada num muro alto
muro do esquecimento diário
vou parar meu coração não se aguenta

paro no ultimo ponto de meu horizonte
contemplo as pedras de Pedro
as ultimas mensagens para humanidade
não consigo vê-las da passarela

mas estão lá

neste lugar que ninguém quer ver
estão as mais belas mensagens pra vida
meus olhos choram por parentes que não perdi
choro pelo pequeno grupo botando flores nas pedras

Havia muito amor naquele gesto
um arquear a cabeça
na tentativa de desatar o nó na garganta
um abraço para o alem da vida

Flores mortas para o morto
O que é de Pedro dê a Pedro
Na busca da justeza desmedida da vida
vamos rindo e as vezes chorando

Mas sempre buscando
os lados de uma mesma passarela

...

E o poema podia acabar aqui
numa suspensa contemplação metafórica
mas minha metafisica é real demais para isso
servo dos olhos e senhor de meus pés

viro como se fosse voltar
como se voltar fosse a solução ultima
como se houvesse ir e vir naquele instante
respiro fundo

vejo as pessoas apressadas
correndo contra relógios invisíveis
alheias demais para os meus sentimentos
os meus pêsames ficaram em alguns olhares desconfiados

Curiosos olhares aqueles

A maquina não para
e os olhos passam pelo meu horizonte

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