sábado, 10 de outubro de 2020

Estar Poeta

 

Escrever poemas é ritmo em movimento
Saber parar, quando preciso
Apertar os calos
Espremer os versos
 
A metáfora ficou assim torta
Hoje não estou poeta
Nem sei o que faço aqui diante
Destes versos que teimam em sair
 
Talvez não sejam versos não sei
Perdidos em conceitos e fingimentos
Poderia correr aos sinônimos
E afetar erudição de primeira linha
 
Não
Prefiro acabar os versos aqui
Se não estou poeta
Ponto
 
Vou viver a vida
Ai ... quem sabe um dia
Não esteja pronto
Pra voltar aqui
 

Aventurando-se poesia

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Condenados a liberdade


A nossa liberdade está em condicional nas letras
Culpado por tentar dar sentido a elas
Ou fazer delas o nosso sentido
No fundo é tudo a mesma nenhuma coisa
 
Sentido
Não Há
São só palavras em cima de palavras
Que chamamos de versos
Estrofes
E
Quem sabe
Um poema nasceu
 
De um sem sentido
Existente
De um mundo
Inexistente
Amontoados
De letras e versos
Palavras
Que tornam sentidas
Vividas
Por nós poetas
E transtornadas
Em poesia
Até de forma
Banalizada
 
Estamos condenados a liberdade
Ouso dizer que erramos na vida
Se há sentido nela
O da poesia é torto e inútil
 
Ah! Todos os versos são inúteis e necessários
E por isso nós poetas
Estamos condenados a liberdade
 
Poema em Coautoria com a poetiza Debs Lima da Pagina Refém das letras.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Oração ao amor virtual

 

Ah! Revoluções midiáticas

Me tire das normas da normalidade

Que eu possa ver os maestros de sonhos alheios

Regendo músicas sem saber tocá-las

 

Revolução midiáticas

Orai por aqueles likes

Que sejamos seguidos ... Engajados

Com a justa medida de nossas palavras

 

Que meu corpo seja julgado

Que minhas fotos sejam objetos de olhares intrigados

Que meus stores sejam vistos

E meus gifs desejados

 

Rogai por todos os seguidores

Que eu não perca a fidelidade numérica

De meus irmãos que não sei o nome

Que eu continue amando assim indiferente

 

Fingindo costume de felicidade

Que minha criatividade não definhe

E meus movimentos sejam copiados

Imitações criativas de agir no mundo

 

E por ultimo e não menos importante

Rogai por todos os haters eles não me entendem

Por minhas horas mortas de solidão e angustia

E que meu vazio continue criativo ... Amém

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Da poesia

 

Doce loucura dos poetas

Amantes da poesia e sua força

 

Da poesia fez-se o pranto

Entre as mãos espalmadas

Uma lagrima cai na calçada

Vira uma flor amarela que se chama poesia

 

Da poesia fez-se a musica

Entre dedos, dentes e cordas

Aninham no peito algo que não tem nome

Não tem forma talvez seja a poesia

 

Da poesia fez-se o grito

Entre o desespero, raiva e aflição

Uma força brota nos olhos

E cria coragem onde tinha covardia ... eis a poesia

 

Da poesia fez-se o silencio

Entre o momento e o tempo

Uma paz profunda vibra no peito

E sou nunca mais o mesmo graças a poesia

 

Da poesia fez-se a fala

Entre o ar, gargantas e lábios

Uma força de mudar o outro

E ser para além do corpo eis a poesia

 

O poeta

Ah! O Poeta ... enxerga a poesia

Que descola das bordas do quadro da vida

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Da verdade


 Deusa incognoscível
Quando ela fala os justos se calam
 
Não é bem tarefa do poeta
Dizer a verdade
Ao contrario
Ele inventa espelhos de si
 
Para enxergar outra verdade
Um paradoxo tão encantador
Que ele não resiste em ser o mentiroso
Com bons propósitos
 
Um sóbrio na plateia
Poderia se levantar e gritar bem alto:
“Blasfemia!”
Como não há plateia
 
Só esta folha em branco
O poeta controla seu sóbrio e seu ébrio
E como aqui não farei um tratado
Ou criarei expectativas e realidades
 
Farei jus a poesia e sua semelhança com a verdade
Sim a poesia tem verdade
Tirando algumas exceções não é a dos filósofos é claro
A verdade é irmã gêmea da poesia
 
Duas deusas nobres que olimpo algum há de ostentar
Elas vagam por entre os mortais
Como a simplicidade no sorriso infantil
Uma rosa que sobrevive na beira do asfalto
 
Elas abrem o caminho dos ébrios ao lar
Transforma um olhar em amor
E criam o amor como se fosse seu filho
Deusas poderosíssimas que negam o poder
 
Quando a verdade vier a minha porta
Com a notícia terrível e inexorável da morte
Honrarei seu nome como último ato
E que meu silencio seja enfim esquecido

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Do Amor





Amar
Verbo indefinido direto
Alguns dizem que
Do amor resta o ódio
Talvez não tenha sido amor
Nem amar

O amor é um pesadelo poético
Faz de sua universalidade e carisma
Um belo bosque iluminado
E o poeta penetra ingenuamente

Treda ilusão
O bosque rapidamente vira uma selva densa
Um labirinto que poucos ou nenhum
Escapam ilesos

Quando escapam
A luz do sol não é a mesma
O tempo colocou rugas na minha face
E o pequeno vazio no peito é vastidão desértica e árida

O poeta não tem culpa
Coitado
Se deus é maquina
É maquina também o corpo que carrega o poeta

Corpo feito para amar
E ser só perdão
Olhem ali o poeta espreitando o bosque do amor
Mas ele bate na perna irado com atual situação

E exclama
“Não falarei mais versos do amor!”
KKKKKKKKK
Mais uma vez coitado

Uma pequena borboleta amarela
Passa diante de seus olhos
Eis o poeta
Amando outra vez

terça-feira, 14 de julho de 2020

A borboleta e o trânsito




parem o transito
olhem ali voando uma borboleta
dessas que voam felizes
tão cheia de sonhos
           
mas como é
metal
cinza
e duro
essa cidade

A borboleta coitada
deusa do acaso e do improvável
vai ser esmagada
no transito, cinza metálico que passa

dou alguns passos
na minha solidão
de pedestre

o sinal abriu
abriu também no ar
o som de uma buzina apressada
e a borboleta ali voando
por entre os motores ligados

Ai que agonia!
Fecho os olhos pro pior
aperto o passo cabisbaixo
triste fim da borboleta

e por um instante
desses que o coração não se aguenta
olho pro lado
vejo a borboleta no alto
e acima dos carros e do chão

voando ao acaso
maestra da desarmonia
do cimento
borracha
e metal

Ai ! De novo uma agonia
um caminhão se aproxima
paro esperançoso na calçada
-         levante voo minha amiga

e no instante do acontecimento
no limite do agora pro que ainda vem
um para-brisa chapado
levou minha frágil deusa do acaso

Ah! se já não bastasse a morte
da borboleta solitária
seu assassino era um caminhão de flores

que ironia!

A cidade que compra flores mortas
não esquece de matar
borboletas vivas
sujando o vidro transparente
com matéria morta
que não vale
nada!



OBS: Este poema foi postado originalmente em 2012.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Amor virtual





Aquela curtida nas fotos
Uma piada bem comentada
As frases pseudofilosofias
Que nos faz sentir bem

Você está sorrindo de fato?
Não sei.
Esta tela não permite saber
"KKKK" não me diz nada

Como são cruéis estas onomatopeias
Me pego contando os ‘’K’’
Para saber o nível do teu sorriso
Contando os dias daquela resposta perdida

Outro dia vi um amigo comentando
"KKK" sem esboçar um sorriso
Ele me disse com cara mais deslavada
Que sorriu para dentro

Incrível a capacidade do ser humano de me surpreender
Sorrir para dentro
Chorar para dentro
Não que isso não seja possível é claro

É como se tornou comum
Silenciosos zumbis na sala de espera
Vez o outra um sussurro ... talvez de um meme
Perdidos olhos para lugar algum

Neste engano eis que vejo
Um jovem casal chegando
E tenciono escrever o contrario
Mas não posso

Logo se sentam
E cada qual no seu aparelho
Amam-se pelo espaço que não se tocam
Virtual amor dos solitários que amam a si mesmo

Reparando bem
Talvez seja um relacionamento virtual
Não sei ... como reconhecer os casais?
Ah! expectativa gera presunções

Talvez nunca soube reconhecer casais
No fundo é desnecessário saber reconhece-los
É arte antiga
Que está em desuso

O Amor agora é virtual
Está no espaço desta tela
Entre os olhos
E o desejo de que tudo seja real

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Poesia na guerra





Não foram um, nem dois e nem três
Foram oitenta tiros
Não foram uma, nem duas e nem três
Foram incontáveis mortes

O fascismo deu a cara no discurso
Aquele seu vizinho calado
Não tem mas a vergonha
De gritar: CPF cancelado

Cada morto
Cada esquina
Uma guerra anestesiada
Escondida nos discursos de deus

Covardes fascistas

Quando você apoia um fascista
Você se torna um
Não tem meio termo
Para estas pessoas

Não há cristão fascista
Não se enganem
Quem não respeita a diferença
Não merece respeito

O poeta vai a guerra
Armado de palavras
E um sonho de inspirar o outro
Para além do mal e do ódio

Eu me levanto com Maya Angelou
Ando nos mesmos trens de Solano trindade
Chorei com os olhos de Conceição Evaristo
E dancei na quadrilha de Lívia Natália

Vocês não passaram
Porque minha força vem de zumbi e Dandara
Que pariu seu mestiço na mata

Vocês não passaram
Porque dancei com mestre Bimba
A capoeira de todos os santos

Chega!
Vocês não passarão

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Poema à Ioná




Naná quando criança me chamava de Lam
Ela sempre ria de minhas palhaçadas
E era de uma sinceridade
Que assustava os adultos e os encantavam

Tinha uma seriedade amena
Uma força de encarar o mundo tranquilo
Que só as crianças geralmente tem
E sua gargalhada destruía nossas melancolias

Sorte daquele que já viu Naná sorrir
Paz nos corações aflitos
Ultimo refugio nas covas inocentes do sorriso
Asas protetoras em um mundo tão cruel

Ah! O mundo ... O mundo é grande e pequeno
E com propósitos e predicados
Que nos afastam ou aproximam
Quem vai saber do até quando ou até onde?

Passei anos distante minha amiga
Muitas águas passaram no rio de nossas vidas
Acompanhei de longe e torcendo
Por aquela simples torção que quase levou o mais belo sorriso

Quando Zé Galinha nos deixou
Lembro de estar na distância de uma varanda
Fumando um cigarro pensando que o mundo ficaria mais triste
 E não iria ver mais aquele abraço de lado e seu largo sorriso

Muitas águas se passaram minha amiga
Hoje nas contingências do mundo
Nos aproximamos de corpos e copos
E tenho a honra de ver seu sorriso

Você me ensinou que o perdão
Precisa de tempo pra perdoar
Que a atenção com os amigos
É como cultivar flores

Eu como borboleta no mundo
Demoro a apreender esta imagem
Ah! Como tento pratica-la
E entender esta força da natureza que você é

Que nossas histórias continuem assim
Cada reencontro um começo
Cada dia um agora
Cada amanhã com seu passado

Um Beijo minha amiga