sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Da verdade


 Deusa incognoscível
Quando ela fala os justos se calam
 
Não é bem tarefa do poeta
Dizer a verdade
Ao contrario
Ele inventa espelhos de si
 
Para enxergar outra verdade
Um paradoxo tão encantador
Que ele não resiste em ser o mentiroso
Com bons propósitos
 
Um sóbrio na plateia
Poderia se levantar e gritar bem alto:
“Blasfemia!”
Como não há plateia
 
Só esta folha em branco
O poeta controla seu sóbrio e seu ébrio
E como aqui não farei um tratado
Ou criarei expectativas e realidades
 
Farei jus a poesia e sua semelhança com a verdade
Sim a poesia tem verdade
Tirando algumas exceções não é a dos filósofos é claro
A verdade é irmã gêmea da poesia
 
Duas deusas nobres que olimpo algum há de ostentar
Elas vagam por entre os mortais
Como a simplicidade no sorriso infantil
Uma rosa que sobrevive na beira do asfalto
 
Elas abrem o caminho dos ébrios ao lar
Transforma um olhar em amor
E criam o amor como se fosse seu filho
Deusas poderosíssimas que negam o poder
 
Quando a verdade vier a minha porta
Com a notícia terrível e inexorável da morte
Honrarei seu nome como último ato
E que meu silencio seja enfim esquecido

Nenhum comentário: