sexta-feira, 3 de junho de 2016

Narciso não quer ver



(Precisamos de uma terapia social)

Um abraço e um beijo
Nos olhos de Capitu
É no que não sabemos
Que temos todas as certezas


No silencio se tem a certeza de se estar existindo
Um vazio corpo balançando nos assertos ordinários
Passagem do discurso para a fala
Da evidencia para o fato

São sempre “in-certos” momentos do agora
Assertivos dardos das minha palavras
Lógica interna de se achar sempre
Para não titubear diante do extraordinário

Devemos crer com quem sabe
Pensar como quem age
Sonhar como que vive

E lá na esquina dobram-se o cotidiano
Pisam nas palavras de uma possível verdade
E querem que elas representem a realidade
Mas elas são tortas e nasceram assim

E não adianta querer muito delas
Porque ?!...
Porque há mais verdades no silencio
Do que todos os livros da estante

Cada pausa destes versos
Momentos de inspirações efusivos
Brotaram de um silencio
A posteriori sempre

Narciso não quer ver
Não quer cumprir o destino
Narciso quer sonhar que vive
Morrer sonhando é melhor
                                                           Porque não se morre de espelho

No espelho não se afoga
Se acha ... fotografa
Se vive na evidencia pura do agora
Filtrada em belas ferramentas virtuais do engano

Sou aquilo que quero ser
Corrijo a realidade para amenizar as coisas
Reparar os erros e as arestas
Me encaixar perfeitamente hermético

 Porque afinal a tela não perdoa
Os olhos não perdoam
Devemos então fura-lo?
Não ... Por favor Édipo não invada meu espaço

Então ...
Todas os deuses são metáforas do que devo ser
Não ... não fale todos
Não fale sempre
Não aprendeste nada na escola da relatividade?

Me parece
Sugiro
Neste aspecto
São boas palavras para não se dizer nada

Afinal
Quem nada diz
Comunga com os erros da verdade
Quem justifica o nada

Galga os degraus dourados da história
Siga a corrente remando seu próprio barco
Mais fácil meu caro amigo
Deixe o esforço no labutar das palavras

E agora como eu costuro esse devaneio todo?
Como eu termino estes versos soltos?
Talvez não termine

E boto mais na conta do silencio

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