segunda-feira, 28 de junho de 2010

O caboclo amazônico

Poema dedicado ao Caboclo velho Pirua
que conheci em viagem a Manaus
nos dedos de prosa
dessa vida


De riso frouxo
voz mansa e dedo na costela
senhor de terras pequenas
na amazônia gigante

todo essa floresta
que eu homem tão cinza
não consigo imaginar
o tamanho deste mundo

e ele conta seus contos
dia a dia vai vivendo
lembrando as coisa
nunca esquecendo

terra à cultivar
mata intocada
o grande ar condicionado noturno
na força desse caboclo

e fala sorrindo
“eu e que não gasto luz
com esse mato do lado
é melhor que qualquer condicionado”

e vai no mesmo carro que eu
operar uma catarata
que os olhos da vida ainda não comeu
ficou embaçado no canto da mata

Itaquatiara
na grande viajem a Manaus
a cidade grande no meio da mata
opera os olhos desse caboclo

tão cheois de políticas
e a vida que vai sumindo aos poucos
escorrendo por entre os dentes
queimando nas matas

e corre o vento fresco da noite
as janelas se abrem
ventilador não carece
nem esse tal computador

“que carrega no bolso
todas as coisas do mundo”
dizia o caboclo insatisfeito
dessa maquina que tudo sabe

eu no auge do meu respeito
disse com os olhos mareados de amor
que sábio mesmo era o caboclo
vive na fresquidão da floresta e não carece luz elétrica

e o caboclo macho que só cão
amoleceu seu coração velho solitário
soltou uma gargalhada simples e verdadeira
e disse em tom solene esse tal calculador não tem nada não

O caboclo dono da verdade da mata
tinha toda razão
não se calcula o amor do pião
com maquina nenhuma não

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