Um grito e uma risada
Depois
Um empurrão que afasta
Uma joelhada
Mãos na gargantaE uma quase morte
Quase tragédia diária
Assim neste misto de desejo e ódio
Mais uma vez
O absurdo se fez cotidianoA violência nas marcas
Na pele de uma mulher
Que assiste a tudo
E no fundo
Se sente culpada
Culpa de gerações passadas
E ela volta
O instinto não perdoaAprisionada pelo desejo
Onde tudo flutua
Entre
Dominar e ser dominada
Dor e prazerAfinal cavalo manso
É fraco e desajeitado
Principal argumento dos que batem
E dos que aceitam a fraqueza do dominadoE ela sonha em dominar a fera
“Agora foi!
Ele deu jeito
Esta preso pela promessa”
Pela desculpa
Que culpa Antes do entendimento da culpa
Na justificação do erro pelo seu erro
E ela chora
Sente vergonha por trás dos óculos
Por escuras mascaras inconsciente
Correm delicadas lagrimas noturnas
Na pressa de ir
Sai atordoada
Não reconhece esquinas
Afinal se sente culpada
Com passos curtos e apressados
Busca a rodoviária
Passagem só de ida
Um amor esfacelado
Ela senta na espera do ônibus
Ele não chega
É um completo vazio
Cheio de gente e maquinas
Ele senta no banco da frente
O ônibus não chega
A agonia não passa
Ela no telefone chora inconsolada
Ele se aproxima devagar e diz:
“Me perdoa não vá meu amorTome as redias de minha cara
Faça uma corda de aço
não quero liberdade.”
Mas como as palavras podem ser enganosas
A dissimulação é a força do dominante
Que se faz de dominado
Arrependimentos dos que mentem
Ah! O doce vazio de se crer na mentira
De fazer de dentro uma realidade foraConfundir os sonhos
Embaralhar a sorte mais uma vez
Ai Se eu soubesse rezar
Se eu pudesse sair da dicotomiaEntre lá e cá
“O que fazer com meus desejos e sonhos?
Quem há de curar o meu desejo de desejar
Que desejando o que não deveria desejarMe cura de um desejo que não posso desejar?
Qual deusa maldita fez o destino de meu desejo
Este nó de ponta única?”
Até quando MariaNão há de perceber a armadilha social deste engodo
Desta eterna culpa de se viver Maria
Liberte-se da culpa Maria
Corte a cordaE viva La vida
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