Uma passarela quase tombando
de tão velha
que ficou esquecida no tempo
Atravesso a grande
avenida
corações apressadosvão ao trabalho engarrafados
coitados destes sofredores
A liberdade que vos
cerca
é sua mais luxuosa
prisãoSuperemos
Equalizemos no álcool esta agressão
Afinal hoje é sesta
feira
dia da pseudo-liberdadedia do vamos sonhar curto
Do consuma porque o tempo te consome
A passarela está
acabando
eis que as coisas
sempre estão acabandomas o sol está nascendo
lindo sol no alto desta passarela
e começo a descer a
passarela
um ar pesado invade meu
coraçãoraios de sol penetram na poeira da manhã
cruzes aparecem sombreando o infinito
na tentativa vã de ser
eterno
há um cemitério no
fim da passarela
vastidão de lapides
cercada num muro altomuro do esquecimento diário
vou parar meu coração não se aguenta
paro no ultimo ponto de
meu horizonte
contemplo as pedras de
Pedroas ultimas mensagens para humanidade
não consigo vê-las da passarela
mas estão lá
neste lugar que ninguém
quer ver
estão as mais belas
mensagens pra vidameus olhos choram por parentes que não perdi
choro pelo pequeno grupo botando flores nas pedras
Havia muito amor
naquele gesto
um arquear a cabeçana tentativa de desatar o nó na garganta
um abraço para o alem da vida
Flores mortas para o morto
O que é de Pedro dê a Pedro
Na busca da justeza desmedida da vida
vamos rindo e as vezes chorando
Mas sempre buscando
os lados de uma mesma
passarela...
E o poema podia acabar
aqui
numa suspensa
contemplação metafóricamas minha metafisica é real demais para isso
servo dos olhos e senhor de meus pés
viro como se fosse
voltar
como se voltar fosse a
solução ultimacomo se houvesse ir e vir naquele instante
respiro fundo
vejo as pessoas
apressadas
correndo contra
relógios invisíveisalheias demais para os meus sentimentos
os meus pêsames ficaram em alguns olhares desconfiados
Curiosos olhares
aqueles
A maquina não para
e os olhos passam pelo
meu horizonte
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