domingo, 14 de outubro de 2012

O hotel

Entro no quarto como se fosse meu
o velho hotel perdido no espaço
vou jogado a mala com uma intimidade
de cheiros e abrir gavetas

arrumo meus pertences
passageiros pertences
no velho quarto que é meu
e de todos que aqui passaram

e passo assim despreocupado
que eu volto eu sempre volto
quantos verso não fiz nesta mesinha?
mesa velha e carcomida

quantas pessoas não vi passar
nestas janelas da vida?
lá estava um poeta
a espiar o dia

ah! esta cama arrumada
escondendo no branco lençol
vida e mais vidas passadas
dormidas ou sonhadas

e me sinto em casa
uma casa minha e de todos
a casa velha que não tive
os degraus de uma antiga escada

não troco este quarto por nada
nem hotel de cinco estrelas novinho

não tem cheiro de vidas passadas
nem identidades manchadas na parede
não é quarto
muito menos morada

estar em hotéis velhos
é quase estar em casa
sempre há vida pulsando
nos corredores e nos carpetes

pego o telefone
disco o numero da recepção
como quem liga para um velho amigo
uma voz rouca e conhecida

poi não?!
E eu translocado e contente
digo:

Ei amigo
 
linda esta vista lateral da janela
uma rua quieta e escura
iluminada pela luz da lua
a luz branca nas faces das pessoas que passam
me faz sentir a vida
não achas?

O senhor quer mudar de quarto?

Não jamais!

O senhor deseja mais alguma coisa?

Calei e percebi o absurdo
o absurdo de se estar sozinho
de amar a intimidade das coisas
perceber as pequenas coisas deslocando da vida

e lá no fundo
 
senhor

senhor

desliguei o telefone
tomei um belo gole de água
desarrumei a cama
e comecei a ler um bom livro

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