o velho hotel perdido
no espaço
vou jogado a mala com
uma intimidade
de cheiros e abrir
gavetas
arrumo meus pertences
passageiros pertences
no velho quarto que é
meu
e de todos que aqui
passaram
e passo assim
despreocupado
que eu volto eu sempre
volto
quantos verso não fiz
nesta mesinha?
mesa velha e carcomida
quantas pessoas não vi
passar
nestas janelas da vida?
lá estava um poeta
a espiar o dia
ah! esta cama arrumada
escondendo no branco
lençol
vida e mais vidas
passadas
dormidas ou sonhadas
e me sinto em casa
uma casa minha e de
todos
a casa velha que não
tive
os degraus de uma
antiga escada
não troco este quarto
por nada
nem hotel de cinco
estrelas novinho
não tem cheiro de
vidas passadas
nem identidades
manchadas na parede
não é quarto
muito menos morada
estar em hotéis velhos
é quase estar em casa
sempre há vida
pulsando
nos corredores e nos
carpetes
pego o telefone
disco o numero da
recepção
como quem liga para um
velho amigo
uma voz rouca e
conhecida
poi não?!
E eu translocado e
contente
digo:
Ei amigo
linda esta vista
lateral da janela
uma rua quieta e escura
iluminada pela luz da
lua
a luz branca nas faces
das pessoas que passam
me faz sentir a vida
não achas?
O senhor quer mudar de
quarto?
Não jamais!
O senhor deseja mais
alguma coisa?
Calei e percebi o
absurdo
o absurdo de se estar
sozinho
de amar a intimidade
das coisas
perceber as pequenas
coisas deslocando da vida
e lá no fundo
senhor
senhor
desliguei o telefone
tomei um belo gole de
água
desarrumei a cama
e comecei a ler um bom
livro
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