A folha em branco
não há segunda chance
as palavras vão fluindo
e vou com elas a ser um eu
fluido e perdido
um eu que jamais fui e jamais serei
um eu perplexo preso neste instante
neste nada
revestido de todas as verdades
vou meio que no meio
vivendo vidas de um inteiro
eis que o verbo poder
assalta-me a mente
possibilidades que não foram
de um lado oposto e mesmo
a vida que pulsa e empurra meus braços
minhas pernas que vão andando
e vou me perdendo nas quinas dos muros
limpando a limpeza de prédios altos
sou o que teve só qualidades
o que não deu sorte na vida
escrevo para quem?
Se não para praguejar todo este esquema
um esquema a muito já sabido
praticado com os fracos
cheios de força e pulmão
tolerados no limite do silêncio
camuflados de sujeira e pó
cobertores por todos os cantos
vou cantando a vida
e louvando a grandeza deste universo
faço minha reza enfrente ao bar
esquinas da minha solidão
eis que um policial se aproxima
fujo como se não tivesse ali
ainda posso sentir
o gosto da cachaça na boca
paro em outra esquina
e agora vou louvar o sol que já vai
2 comentários:
Gostei do que li. Parece-me que há um conflito no qual o eu-lírico sente um misto de prazer e dor, quase que numa medida exata, ao se revelar como alguém ao mesmo tempo perdido e que sabe de si mesmo.
Mais uma vez, gostei do que li!
Sim Almir é o eu-lirico dividido. esquisofrenico. Parte do sistema que ele tanto odeia. amor odioso.
Até Alan
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