Um grito na madrugada
o sol nem nasceu de todo ainda
janelas abertas pra noite
e uma manhã como outra qualquer
a TV ainda não fez a realidade
um vizinho sai descalço na rua
coça os olhos do ultimo sonho
e o inevitável o atinge os olhos
uma luz que penetra o ser
na escuridão das ruas acesas
e lá vai mais um servo moderno
levar seu estomago a lugares alheios
e vamos com ele
como os raios do dia
voam na madrugada a dentro
liberta os seres de sua cova profunda
este servos modernos chega a um ponto de ônibus
muitos também vão de carro
mas o ônibus
faz saltar aos olhos o radicalismo da madrugada
No ponto de ônibus
dois mundos se entrelaçam
pessoas deixam a praça noturna
depois da comemoração da madrugada
a luz do sol comanda a passagem
pessoas voltam da madrugada
pessoas vão servir na luz do dia
mundos que se completam na diferença da vida
olhares costuram estes dois mundos
respeitosos
irônicos
ou saudosos
é ali onde todos os olhares se misturam
como se fosse
a ultima celebração da liberdade
ultima festa
ultima noite no primeiro dia
eis que o ônibus chega
levando sobre as rodas metálicas
uma borracha dura
uma vida dura de servidão
um servo completamente cego
para sua própria condição
uma cegueira branca
misturada a crueldade capitalista
e assim dois mundos muito antigos
se entrelaçam nesta noite
que anida não é dia
e pouco a pouco vai deixando de ser
entre a luz e a escuridão
está a semente da liberdade
igualdade profunda do diferente
voz primeira da vida
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